Era uma vez uma guriazinha que queria ser jornalista. Ela acreditava que podia mudar o mundo com suas reflexões sobre a vida, o universo, e tudo mais. Um dia, percebeu que esse mesmo mundo não estava muito interessado nas suas teorias libertárias, ainda mais se estas fossem difundidas nos grandes meios de comunicação.
Pois bem. A garotinha decidiu ser professora. Imaginava que, mesmo não modificando o pensamento das pessoas em larga escala, pensou que poderia mudar um pouquinho aqueles que a cercavam. Naquela altura da vida, já estava de bom tamanho.
Fez faculdade de História, se empenhou em ser uma excelente aluna, entrou em contato com discussões sobre feminismo e gênero, e, sabe-se lá por que, acreditou que poderia ser alguém que fizesse a diferença novamente. Mas as barreiras se impuseram, pesadas. “Isso não é História!” – diziam alguns professores. “Vá achar outra pesquisa!” – anunciavam outros.
Mas a menininha foi persistente. Seguiu com sua ideologia e estudou aquilo que gostava. Sua perseverança lhe rendeu uma vaga no Mestrado – em História! Interessante… Ali ela pode devanear um pouco mais. Mas quem faz/fez parte do mundo acadêmico cientificista sabe o quanto esses pensamentos oníricos podem custar.
Tudo bem. Não estava ali para agradar ninguém mesmo. Ninguém além dela mesma. A garotinha – que agora já não era mais tão pequena assim, ao menos em tamanho e idade – seguia em frente. Já não via a hora de exteriorizar seus pensamentos para uma turma de alunos, que, imaginava ela, estariam interessados em suas proposições.
Ela aceitou o desafio e partiu para o mercado de trabalho. Foi exercer a profissão que tanto gostava de estudar. Mas percebeu que pesquisar sobre aquilo era muito mais interessante do que o exercício diário de sua escolha.
Ninguém estava interessado no que ela tinha a dizer. Pelo contrário. Enquanto ela achava que poderia difundir práticas e pensamentos de igualdade entre os sexos, os alunos dividiam a turma entre Irã e Iraque. Uns representados pela masculinidade latente e institucionalmente aceita e a outra “facção” pelas garotas da “turma”.
Mas a guriazinha pensou que aquilo tudo era um exercício de paciência e perseverança. Estava enganada novamente. Até porque, sendo também uma menina, foi inserida na segunda parcela. Na “segunda categoria” de humanidade. Mulheres.
Estando já quase sem esperanças, a garotinha decidiu fazer um curso menos científico e mais artístico. Entrou para a faculdade de Moda. Acreditava-se realizada com sua nova escolha, afinal, ali sim ela poderia explorar sua criatividade e, quem sabe, finalmente ser livre das amarras que ainda a prendiam.
Ali ela poderia juntar toda a teoria anteriormente aprendida e concatená-la com o universo fashion. Bom demais para ser verdade. Já imaginou sua primeira coleção, inspirada nas feministas e/ou nas discussões de gênero. Se Moda é um reflexo da sociedade, a menininha ia refletir o que bem entendesse, e divulgar suas ideias através de roupas.
Encontrou colegas e amigas que compartilhavam esses sonhos e assim formaram uma equipe animada e esperançosa.
Mas ali, também, não puderam exercer sua liberdade. Foram tolhidas pelo sistema e tiveram que se adaptar, mais uma vez.
No entanto, a guriazinha segue em frente. Ela e muitas das pessoas que encontrou pelo caminho. Algumas acabaram desistindo, pois é árduo nadar contra a corrente.
Ela não tem mais a pretensão de mudar o universo, e nem mesmo todas as pessoas ao seu redor. O que ela deseja, com todas as suas forças, é, apenas, ser livre. Liberdade para criar, para ser, para estar no mundo. Livre para sonhar, para tentar, para desistir e começar novamente, se assim for necessário.
Agora, me respondam: será que esta garotinha (ruiva) está sonhando demais?
Beijocas no ♥.
*Todas as imagens foram retiradas do We♥It.
Não é sonhar demais não. É sonhar sozinha.
Sozinha a gente não aguenta nada.
Concordo. Mas tenho certeza que tem outros sós por aí… =*
Eu já estou aqui. 😀
Fiquei sem palavras. Nós entramos nesse clima de “revolução” mas infelizmente a repressão falou mais alto e o que ainda falou mais alto foi o pensamento medíocre. Talvez seja esse pensamento que acaba delimitando tanto a criação. No mais, lindo texto e lindos pensamentos Ana, sou tua fã já te falei isso né?
Pois é, triste demais.
Um grande beijo, colega de debates e questionamentos! 😉
Não sei nem o que dizer, tem uma colega minha que faz moda e sociologia, apesar das criticas que ela recebe, eu acho que tem tudo a ver.
e não pense que é vc que sonha demais, é o mundo como está posto hoje que não consegue absorver os sonhos mais libertarios e mais ideologizados.
No mais, se quiser procurar uma terceira formação, vc será muito bem vinda nas ciencias sociais 🙂
Hummm, acho que as Ciências Sociais entram no mesmo nicho da História… hehe
E tb acho que Moda e Sociologia tem tudo a ver. Mas sempre terá alguém para criticar.
Conheço bem algumas dessas frustrações… sou formada em Ciências Sociais e a minha pretensão de refletir sobre este mundo nunca foi muito levada a sério. E as contas começaram a chegar, implacáveis…
Será que dá pra refletir sobre algo tão esquizofrênico quanto esse mundo que a gente vive? Nessa altura da vida – 34 anos – chego a conclusão que não. O jeito é viver, fazendo o que se gosta, mesmo que seja fora do horário comercial, e tentando contribuir, ainda que seja aos pouquinhos, pra uma vida mais doce e mais bonita pra nós mesmos e nossos sobrinhos, filhos, netos…
É isso aí, Adriana… 🙂
“O que ela deseja, com todas as suas forças, é, apenas, ser livre. Liberdade para criar, para ser, para estar no mundo. Livre para sonhar, para tentar, para desistir e começar novamente, se assim for necessário.” (adorei)
A vida é sempre um recomeço Ana.. Os maiores artistas são aqueles que lutam contra a corrente.. pensa nisso. Se tu acredita que a tua inspiração parte destes ideais, faça ela valer, só não esqueça que a moda conceitual tem que gerar uma moda comercial e ter um público alvo apto a consumi-la. Se grandes estilistas não tivessem lutado contra barreiras, contra a corrente e contra o sistema, não teríamos grandes nomes na moda, como chanel, McQueen, entre muitos outros..
Conta comigo sempre!
Natt
=*
muito bom o texto, não tenho muito a dizer, porque pra mim seu texto ja falou tudo. Mais mesmo assim, espero que a garotinha ruiva continue sonhando, porque são os nossos sonhos e ideais que fazem a gente ser o que é. E essa garotinha ruiva pode não ter mudado o mundo, mais posso dizer a ela, que ela mudou muitos dos meus pensamentos.
Obrigada pela força, Karina, de verdade!
Beijão
Belo texto Ana. Produção sem liberdade não é criação é simplesmente reprodução… O teu pensar diferente é o teu grande trunfo. Segue teu caminho com fé e força, pois a estrada vai além do do que se vê!
ADORO quando os Eternos comentam aqui. Muita saudade de tí!
Beijocas
Lindo texto querida!
Liberdade, esperança, evolução!
Sempre em busca de algo melhor.
Adoro-te!
Bjo
Beijão, e obrigada por estar sempre presente por aqui!
Não estás sonhando demais, não. Sei como é difícil o caminho… manter nossos ideais, tem consequências. Mas lutaremos contra estas, nadaremos contra a corrente, e seguiremos acreditando em nossas escolhas, ideias, vidas… acredito que esse é o caminho para a felicidade (momento clichê mas verdadeiro) rs
Força, companheira 🙂
“We Can Do It”
Mts beijos, LUV U.
Tu é uma “daquelas pessoas que não desistiram e continuam seguindo em frente”. Te amo demais!
Beijos para minha colega feminista e uma das pessoas mais doces que conheci, apesar da aparência de marrenta. 😛
:)))))))))))))))))
Luv u!!
😉
O problema não é de quem -aparentemente- parece estar sonhando demais. O problema é que aqueles que perderam a capacidade de sonhar e realizar seus sonhos acabam querendo extinguir o mesmo desejo que antes tinham e que agora não suportam ver nos outros.
Ser contra a corrente pode ser muitas vezes solitário, difícil e na maioria das vezes ninguém está “nem aí”. Mas acredite, alguém vai ligar. Sempre dá pra mudar uma pequena parte do universo 🙂
bj
Pois é prima, acho que o problema é bem esse, ainda mais na academia. Parece que não querem nos ver crescer, pois depois competiremos com eles…
Beijão, e força pra tí também!
querida, já tinha “conversado” um pouquinho com vc pelo twitter… eu te entendo demais e sei que dá vontade de desistir, mesmo. quem vai na contramão do mundo, não se vende aos ideais dominantes, vai levar mesmo muitas “chicotadas” da vida! infelizmente.
tb sou feminista, e engajada, ultimamente. sei o quanto a luta é cruel. qdo se trata de lutar pelo direito das mulheres, muitas vezes a gente perde o apoio até mesmo daqueles em que mais confiamos. gente que ergue o braço junto pra brigar por certas coisas, gente POR QUEM a gente briga sem nem ter nada a ver com a história… mas pra mulher tá sempre tudo muito bem, tudo muito bom, né? quem se importa? estamos todas felizes, tá tudo conquistado! ¬¬
mas não desista, nunca! essa briga vale a pena comprar. eu, pessoalmente, sigo o exemplo do meu querido professor de história do ensino médio, que dizia: “se uma pessoa nesta classe, apenas uma, parar para refletir, questionar ou quiser mudar certa coisa, eu não terei falhado!” e é assim mesmo. dar aulas é assim… pode crer que alguém te ouve. agora, os trabalhos que têm que lidar com mercado e demanda são cruéis, mesmo. mas lembre-se da Coco Chanel… 😉
(deve estar repleto de erros, escrevi com sono! rs)
É Letícia, essa vida de feminista é dureza…
Sei que o mercado é cruel, mas na faculdade é justamente onde poderíamos extravasar, e não poderemos. Triste…
Beijos
pff… faculdade? já perdi essa ilusão. faça o melhor possível e tente não se intimidar com os obstáculos… pq faculdade é lugar de hierarquia e de imposição, infelizmente =/ isso acontece tanto no nível dos docentes qto no dos discentes! :S
Pois é, mas se não for agora, no mercado de trabalho é que não será. Infelizmente.
Adorei o post! E acho que ele reflete o pensamento de muitas pessoas! Fiz o caminho inverso, sonhando primeiro com o universo fashion onde poderia expor as minhas ideias. Agora ainda estou na fase do jornalismo e, através dele, ainda acredito que posso mudar o mundo! Continuemos a luta diária de quem sabe fazer um lugar melhor para todos 😀
Beijokas
http://www.misslittlecherry.wordpress.com
É isso aí, Rafaela!
Grande beijo!
Post maravilhoso
bjs e bom fds
Beijão, querida!
Não é que você está sonhando demais ou sonhando sozinha. Os outros é que não tem coragem de admitir que também sonham. Porque admitir isso é admitir que desejos existem e que ainda não foram realizados. E pra algumas pessoas isso dói. E dói nelas ver alguém – como você – sonhando e buscando o que elas não conseguem. Por isso saiba que só pela sua atitude, você já inspira algo nos outros. E pelo que entendi, é tocá-los de alguma forma que você quer. 🙂
sempre leio seu blgo, mas nunca comentei. mas senti vontade hoje.
beijos :*
Comente sempre que quiseres, Michelle, fico muito feliz com sua presença aqui! =*
Sua vida parece com a minha… Na verdade, nos parecemos até fisicamente! rs
Eu ainda não decidi o que fazer, nem sei se tenho forças/ânimo para seguir tentando por tanto tempo. Mas já me alegro em saber que existem pessoas no mundo que têm! 🙂
http://www.tolamaravilha.blogspot.com
Força, Caschu! Muita sorte na área que escolheres!
Beijão
Ah, Ana, que bom saber que existem outras sonhadoras como nós por aí para somar – e distrair, rsrsrsrs =D Vc sabe que sempre dou uma passadinha aqui para conferir as novidades e ler que começou a estudar moda foi uma notícia muito inspiradora! Nunca é tarde demais para perseguirmos nossos sonhos – e nunca será cedo demais para desistir deles! Claro que precisamos de apoio, mas o principal mesmo é confiar em si! As instituições desdenham qualquer projeto que desafie os padrões vigentes, nesse meio há de se ter muito jogo de cintura para revolucionar, sacudir mesmo, a opinião pública! Eu concordo com vc, a moda não pode deixar de ser uma forma de nos posicionarmos em relação ao mundo! Chega de futilidade, de ‘modismo’, há que se ter um compromisso com a posteridade! E vc tem, Ana 🙂 Com certeza! Só pela sua intenção vc já está de parabéns! Espero que realize-as nessa nova jornada, onde a ‘senhora’ já aporta com grande bagagem, hã? Olha que vantagem =D Hahauhauhauha! Agora é transformar esses sonhos em realidade! Descobrir o ‘jeitinho’ todo seu de fazer isso e mãos à obra! Existem formas e formas de se dizer uma coisa, e se o discurso incomoda, recorra à alguma outra linguagem, baby! Descubra meios de expressar o que vc quer dizer, recorra ao seu repertório histórico ;^) Tenho certeza que vc não vai esmorecer! Avante colega!
Bjs! Thaís ;^*
Chorei aqui. ❤ ❤ ❤
Beijos de amor!
Quanta emoção. Seu post caiu como uma luva para o dia de hoje, vc nem imagina o quanto. Muito obrigada!!!
Puxa, fico muito feliz, Débora! =***